quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O primeiro beijo – Clarice Lispector

NOME:                                      no.                 9º. Ano   

Trabalho de compensação de ausências – 9º. Ano - Português
Conto: O primeiro beijo – Clarice Lispector

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.
- Quem era ela? perguntou com dor.
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.
De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.
Ele a havia beijado.
Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
Ele se tornara homem.

Ficha de Leitura
Pesquisa
Biografia do autor

Estrutura da obra
a.      Assunto – principal acontecimento sobre o qual gira a história.

b.      Mensagem – pensamento ou conclusão do leitor a respeito da história.

c.       Enredo – conjunto dos fatos narrados.
             O enredo apresenta os seguintes elementos:
·           Introdução – momento em que são apresentados os fatos iniciais; serve para situar o leitor diante do que irá ler.
·           Complicação – parte da história em que são desenvolvidos os conflitos.
·           Clímax – momento culminante da história de maior tensão e suspense.

d.      Justificativa do título – o porquê da escolha do título.

e.      Espaço – lugar onde ocorrem as ações das personagens.

f.        Ambiente – espaço com as características sociais, econômicas, morais, psicológicas em que vivem as personagens.

g.      Tempo – análise dos índices de tempo que o enredo apresenta. Pode ser caracterizado quanto à:
·         Duração – o tempo que a história levou para ocorrer. Quando não há indicações de tempo, pode-se deduzir pela lógica, analisando os acontecimentos do enredo.
·         Época – o pano de fundo da história. Quando a época é atual, basta justificar com elementos da atualidade; quando é antiga, pode-se e deve-se procurar uma correspondência com fatos históricos.

h.      Narrador – identificação do ponto de vista ou foco narrativo, isto é, verificar se o narrador conta a sua própria história (primeira pessoa) ou conta a história de outras pessoas (terceira pessoa).

i.        Linguagem – identificação do tipo de linguagem utilizada pelo autor: coloquial, regional etc.


Conclusão
O leitor deve dar sua opinião a respeito da história, da estrutura da obra, do autor e da linguagem.


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